Em Junho deste ano, Wim Wenders
participou em Bruxelas no debate público “Discursos sobre a Europa”, organizado pelas instituições europeias. O realizador alemão, criador de filmes mundialmente famosos como “As Asas do Desejo”, acedeu com prazer a partilhar connosco algumas das suas ideias sobre a Europa.
O que significa para si ser europeu?
Quando era miúdo fiquei muito aliviado quando percebi que podia ser outra coisa para além de alemão. Dei-me conta de que havia uma "definição" diferente para alguém como eu, um alemão "filho da guerra". Esta ideia de ser europeu surgiu sem nenhuma das armadilhas do nacionalismo. Tenho sido, portanto, um fervoroso europeu desde os 10 anos de idade!
Gostei da ideia de Europa porque me libertava do peso de pertencer a uma nação, algo que nunca quis. Sou alemão, toda a minha educação foi alemã, a língua alemã é responsável não só pela forma mas também pelo conteúdo dos meus pensamentos, mas estou muito contente por me poder considerar europeu.
Qual foi para si a principal realização da União Europeia ao longo destes 50 anos?
Penso que a ideia de Europa, o projecto que começou há 50 anos, teve consequências maiores do que qualquer outra ideia política na história da Europa.
Tivemos um longo período de paz. Há uma cultura completamente nova de diálogo na Europa e há também mais desenvolvimento aqui do que em qualquer outra parte do mundo.
Todas as ideias de que se falava quando eu era miúdo, a moeda única, o fim das fronteiras, etc., tornaram se realidade em 50 anos.
A Europa está agora perante um novo desafio que é o de definir se a si própria.
Qual é o seu filme europeu preferido?
A Residência Espanhola . Para a minha geração, viajar era um luxo. Hoje em dia, com os voos baratos, os jovens europeus viajam muito mais e podem visitar um país diferente em cada fim-de-semana. Este filme retrata muito fielmente essa situação e reflecte o lado aventuroso, o caos que a Europa representa. Não há nada mais inspirador do que o caos, é por isso que sou um cineasta. No meio do caos, é necessário encontrar o significado que o irá transfigurar e pôr de pé algo que faça sentido, que conte uma história e que faça sentir emoções. O caos é a principal fonte de inspiração para um artista, e a Europa é caótica.
